http://www.blogger.com/ Junta Médica M11: Números em saúde Pública

Números em saúde Pública


No ambulatório de ginecologia, há ainda uma ambulatório de Infertilidade. Impressionante a quantidade de mulheres que sonham em ser mãe. Aliás, me questiono se esse não seria o sonho de todas as mulheres.


Enfim, o fato é que é bem difícil, ou melhor, desafiador fazer um ambulatório de Infertilidade no SUS, no qual os recursos para este fim são limitados, para não dizer inexistentes. O principal exame para avaliar a permeabilidade das trompas é a histerossalpingografia, um exame que não é ofertado na rede pública.

Quando se diz da necessidade deste exame e explica qual a sua finalidade, as pacientes enchem os olhos de esperança e dizem que vão fazê-lo particular, mesmo sacrificando o pouco dinheiro que têm. Mas esta empolgação dura somente o tempo suficiente até elas descobrirem que ele custa APENAS R$ 400,00. A preceptora, reeanima-as com a seguinte orientação: "Saúde é um direito de todos. Vá na secretaria de saúde do municipio com a solicitação deste exame e diga que você tem direito". Assim elas fazem, e surpreendam-se: grande quantidade consegue!!!!! Parabéns pra nossa prefeitura e parabéns pra nossas mulheres, que não desistem diante do primeiro obstáculo!!!

Antes deste rodízio, eu estava no rodízio de saúde comunitária, que como o próprio nome sugere tem uma visão de comunidade, de recursos limitados e de priorização de recursos para os problemas ou afecções mais prevalentes na comunidade. Eu tinha esta percepção em saúde e achava, realmente, que alguns problemas são mais urgentes e mais importantes do que investir o dinheiro público em exames ou em procedimentos,como a inseminação artificial, para 'botar' mais crianças no mundo. Pra quê??? Se a maternidade tá cheia de mães parindo vários deles?

Mas nas minha últimas semanas, eu me deparei com uma situação que me fez refletir sobre meus conceitos. Fui incumbida pela preceptora de anunciar para a paciente que ela, infelizmente, não poderia ter filhos nunca devido a uma malformação uterina, chamada de útero unicorno. Usei de todo o meu português, com palavras suaves, para explicar o que era esse problema que a impedia de ter o filho desejado há 14 anos pelo casal. Eufemismo inútil!!! Ao entender o que de vera acontecia, a paciente não conteve-se e chorou. Senti o quanto era doloroso aceitar que, pra ela, esperança não havia mais, já que a infertilização custaria cerca de R$ 10000,00.

A partir desse dia, entendi, que saúde não é apenas números. Entendo também a importância da epidemiologia no planejamento e gestão de saúde pública. Mas gostaria que todos os gestores do nosso Brasilzão entendessem da necessidade das pessoas que são minoria.

Mas... E se nós pensassemos em números, deveríamos lembrar da enorme quantidade de mães que têm filhos e os abandonam. Não me refiro apenas àquelas mães que deixam suas crianças nas ruas. Refiro-me àquelas mães que deixam a educação e o cuidado de suas crianças à mercê da criminalidade. E que mesmo sabendo que são péssimas mães e que não tem condições psicológicas ou financeiras de terem mais filhos, ainda assim, estão na maternidade anualmente. Eu questiono: diante de um número crescente de crianças abandonadas, e diante de uma mulher que abandona seus filhos e ainda insiste em anualmente ter mais; o governo deveria negar-se prestar assistência ao parto? Parece absurdo, não?! Números não são tudo!!!

Josiane Leite

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